segunda-feira, 30 de outubro de 2017

Corredeiras e remanso

Corredeiras e remanso

Péricles Capanema

Iria examinar outro assunto, a documentação não chegou, fica para próxima. Hoje relembrarei riqueza espiritual nossa, dela queria me ocupar faz tempo.

Antes, preciso registrar fato recente. Foram realizados em 27 de outubro os leilões do pré-sal, promovidos pelo governo, melhorando, pela ANP, a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis. Objetivos sempre reafirmados por ocasião de tais eventos, menos presença do Estado na economia, eficiência, competitividade, maior geração de riquezas. Eu poderia acrescentar, mais sociedade, menos Estado e, com isso, mais independência dos cidadãos e do País. Será?

O bloco Sul de Gato do Mato foi arrematado pelo consórcio formado pela Shell (80%) e Total (20%). O bloco Entorno de Sapinhoá foi arrematado pelo consórcio Petrobrás (45%), Shell Brasil (30%) e Repsol Sinopec (25%). A Sinopec é estatal chinesa, dirigida pelo governo e Partido Comunista chineses. Norte de Carcará, o terceiro bloco, foi arrematado pela Statoil Brasil (40%), Petrogal Brasil (20%) e Exxon Mobil Brasil (40%). A Statoil é estatal norueguesa. Peroba, o quarto, foi arrematado pela Petrobrás (40%), CNODC Brasil (20%) e BP Energy (40%). A CNODC é estatal chinesa, repito, dirigida pelo governo e Partido Comunista chineses. Alto de Cabo Frio Oeste, o quinto bloco, foi arrematado pela Shell Brasil (35%), CNOOC Petroleum (20%) e QPI Brasil (25%). A CNOOC é estatal chinesa, repito de novo, dirigida pelo governo e pelo Partido Comunista chineses. A QPI é estatal do Catar. Alto de Cabo Frio Central, o último bloco, foi arrematado pela Petrobrás (50%) e BP Energy (50%). Programa de privatização deveria significar entregar à iniciativa privada, a particulares, atividades econômicas antes levadas adiante pelo Estado. Mas aqui vou deixar de lado esse aspecto. Só sublinho agora um ponto: a China comunista, potência imperialista, continua a comprar planejada e avidamente fatias da economia brasileira, sob a indiferença cega ou a cumplicidade criminosa de decisivos setores da vida pública nacional. A geração atual está pondo em risco, insciente ou criminosamente, a independência e a soberania do Brasil de amanhã.

Passo agora à riqueza espiritual de que queria tratar buscando testemunhos em passado ainda recente. Mesmo nos rios mais revoltos ▬ e o Brasil infelizmente rola correnteza abaixo ▬, aqui e ali aparecem remansos. A gente neles se detém, retempera forças, e logo depois volta a navegar.

Vamos entrar em um deles. Stefan Zweig (1881-1942) foi escritor dos mais vendidos mundialmente. Intelectual reconhecido, como literato brilhou em quase tudo: poeta, romancista, dramaturgo, jornalista, biógrafo. Sem prática religiosa (“Minha mãe e meu pai eram judeus apenas por acidente de nascimento”), comodamente instalado na alta burguesia judaica, o pai industrial e a mãe filha de banqueiro, Stefan Zweig nasceu, viveu e formou mentalidade na Viena culta de Francisco José, continuador em boa medida da antiga política dos Habsburgos de harmonizar diferenças e estimular situações em que cada pessoa, cada família, cada região, sem lesar o bem comum, podia desenvolver suas qualidades. A convulsão da política europeia o expulsou de lá. Fugindo da guerra e do antissemitismo, o escritor morou na Inglaterra e nos Estados Unidos; terminou por fixar residência em Petrópolis, onde, deprimido, matou-se em 1942.

Em 1941 publicou livro de boa repercussão “Brasil, país do futuro”, edições simultâneas em vários idiomas; eram impressões sobre o País que o havia acolhido. Em certo momento, retrata o clima social generalizado do Brasil daquela época. Espero pôr em destaque uma forma de relações humanas, a riqueza de que falava, reproduzindo fiapos do livro. Por possui-la, Stefan Zweig acreditava, o Brasil merecia a admiração do mundo.

“O Brasil, por sua estrutura etnológica, se tivesse aceito o delírio europeu de nacionalidades e raças, seria o país mais desunido, menos pacífico e mais intranquilo do mundo”. Discorre a seguir sobre a imensa diversidade de raças e continua: “Da maneira mais simples o Brasil tornou absurdo o problema racial que perturba o mundo europeu, ignorando simplesmente o presumido valor de tal problema”. De outro modo, constatou benquerença tão generalizada, digamos, que nem percebeu o problema do racismo no Brasil.

Passa a conjeturar sobre a origem de tal situação: “Certa brandura e uma suave melancolia”. Nos estudantes “inteligência unida a modéstia e polidez tranquilas”. No geral “essa forma mais suave e mais serena da vida é um benefício e uma felicidade”.

Em virtude do clima social predominante, “o indivíduo sente a alma aliviada logo que pisa esta terra. Primeiramente, pensa que este efeito calmante é apenas alegria dos olhos, e gozo dessa beleza sem par que, por assim dizer, de braços abertos chama a si o indivíduo que acaba de chegar”. Continua: “Em geral ao brasileiro é alheio tudo o que é violência, brutalidade e sadismo”.

Tal maneira de ser se reflete na política: “O Brasil não tem desejos de conquistar territórios, não possui tendências imperialistas. O princípio básico de sua ideia nacional [é] o desejo de conciliação e acordo, produto natural dum predicado do povo”.

Despreocupado com a segurança, Stefan Zweig pacificamente visitou favelas, então mais pobres que as atuais: “Tinha um mau pressentimento. Esperava receber um olhar raivoso ou uma palavra injuriosa. Mas para esses indivíduos de boa-fé um estrangeiro que se dá ao trabalho de subir aqueles morros, é um hóspede bem-vindo e quase um amigo”. Visitasse-as hoje sem a permissão do chefe da boca de fumo, para começo de conversa seria depenado. Facilmente sequestrado ou morto.

Não estou sobrevalorizando as impressões do vienense. Tem seu ponto-de-vista de europeu educado na Belle Époque numa das capitais mais civilizadas da Europa, no seu olhar pode facilmente existir influência do romantismo do século 19. Nada disso excluo. Mas também não quero subestimá-lo. Dados os descontos, Zweig parece contemplar outro mundo, tragado pelo tempo. À primeira vista, sacudido pelas incompreensões, rasgado pelas divisões, com patrulhas cultivando o ódio, pouco existiria daquele país formado com enormes dificuldades, missionado em especial por jesuítas, carmelitas e franciscanos. Dele, recordo lenda bretã, como uma catedral engolida por maremoto, só se ouviria o plangor longínquo dos sinos debaixo de águas revoltas.

Na mesma época, 1935 a 1937, professor na nascente USP, morou entre nós Fernand Braudel (1902-1985). Muitos estudiosos o consideram o maior pensador social e historiador do século 20. Reveladoramente, viu o Brasil com olhar parecido ao de Stefan Zweig: “Foi no Brasil que me tornei inteligente. O espetáculo que tive diante dos olhos era um tal espetáculo de história, um tal espetáculo de gentileza social que eu compreendi a vida de outra maneira. Os mais belos anos de minha vida passei no Brasil”. O que significava para ele ter ficado inteligente?, foi-lhe perguntado. Deu várias respostas. Duas delas: “Fiquei menos banal”. A outra: “Lá eu aprendi a ser feliz”. O espetáculo de gentileza social lhe estimulou a inteligência. Tornou-a mais abarcadora. Nas fontes da gentileza social, o interesse desinteressado [paradoxo aparente] e o apreço pelo “outro”. O “outro” não é o inferno, como na frase de Jean-Paul Sartre [l’enfer, c’est les autres], o “outro”, nessa mentalidade, é a estrada para o paraíso.


 Volto à pergunta de fundo, o que restou do aroma evolado de árvore frondosa, que encantou Stefan Zweig e Fernand Braudel? Raízes, riqueza imensa, ainda que potencial. Distingui-las em nosso radar interior, regá-las, tonifica as melhores fibras do espírito. Sem seu cultivo, o Brasil nunca terá títulos para ser nação com grandeza cristã, mesmo que consiga romper os obstáculos que hoje o impedem de crescer.

domingo, 22 de outubro de 2017

Retratos do Brasil

Retratos do Brasil

Péricles Capanema

A menos de ano da eleição presidencial, não só dela, Câmara, Senado, governadores, na bica, desembocamos na reta de chegada. Como? Deixo alguns vislumbres abaixo. Entre 12 e 16 de outubro o Instituto Paraná Pesquisas executou a especialidade, pesquisou em 64 cidades de Santa Catarina, entrevistando 1.554 eleitores.

Antes dos números alguns lembretes. Em renda per capita o catarinense é o brasileiro mais rico ou quase tanto. Estado ordeiro, boa qualidade de vida, gente acostumada ao trabalho, em média seu habitante é mais escolarizado e informado que no resto do Brasil. Tal perfil sociológico se repete em enormes bolsões de Pindorama. E então, os resultados em Santa Catarina são importantes, mais valem, todavia, como indicativos nacionais. Feitas as adaptações, a pesquisa revela propensões País afora em gente de aspirações, nível de informação e renda, semelhantes às dos catarinenses.

Na corrida presidencial, Bolsonaro lidera (24,6%), seguido por Lula (18,0%), Marina (9,3%), Alkmin (8,2%), Álvaro Dias (7,0%), Joaquim Barbos (5,8%).

Por idade. Entre 16 e 24 anos, Bolsonaro (32,7%), Lula (17,6%); entre 24 e 34 anos, Bolsonaro (34,3%), Lula (15,0%); entre 35 e 44 anos, Bolsonaro (30,6%), Lula (15,6). De outro jeito, a aprovação a Bolsonaro sobe acima da média do Estado e a de Lula cai para abaixo da média na juventude e nos anos em que a pessoa é mais produtiva. Entre os idosos, a tendência se inverte, sobe Lula e cai Bolsonaro. Para os de 60 ou mais, Jair Bolsonaro (11,6%), Lula (21,6%). Aqui pode entrar o receio da mexida nas aposentadorias, que o petista supostamente não faria. Agora, escolaridade. Aumenta a escolaridade, cresce o voto Bolsonaro. Entre os de nível superior, Bolsonaro (31,1%), Lula (10,6%). Finalmente, sexo. O apoio a Bolsonaro é maior entre homens que entre mulheres; homens (32,8%), mulheres (20,1%).

Sob um aspecto, o levantamento mostra, sobe o voto Bolsonaro entre as pessoas que estão pela idade com mais gana de ir para frente e crescer na vida. Buscam ordem, segurança, correção na vida pública. Têm horror de incompetência, bagunça, roubalheira e retrocesso, marcas do PT. Apoiariam incondicionalmente Bolsonaro? Não. De momento simpatizam com uma imagem militar de determinação, um comportamento, algumas convicções. Tanto mais que o deputado ainda não apresentou programa. A maioria desse eleitorado quer privatizações e menor presença do Estado na economia. E não são bem conhecidas as posições atuais de Bolsonaro relativas ao estatismo e ao intervencionismo estatal.

Continuo com pesquisas, agora mais amplas e trabalhadas. Passo a um estudo, cuja matéria-prima são investigações (entrevistadas 1.568 pessoas no Brasil inteiro), realizado e publicado pela Fundação Getúlio Vargas. Título: “O dilema do brasileiro: entre a descrença no presente e a esperança no futuro”.

Algumas de suas constatações: o que mais preocupa 62,3% dos brasileiros é a corrupção (62,3%). Supera saúde pública (49,7%), segurança pública (44,1%), desemprego (39,4%). Para apenas 12,2% o principal problema é a perda de valores morais. E apenas 24,8% julgam que é a educação pública. Outras averiguações do estudo da FGV. 68,4% dos brasileiros são contra qualquer liberalização do aborto, 10,0% a desejam. 39,2% dos brasileiros concordam que os casais homossexuais devem ter os mesmos direitos que os heterossexuais, 31,0% são contra tal possibilidade.

Enorme descrença com a política. Rejeição de 83% ao presidente Temer (apoio de 7,7%), rejeição de 78% aos políticos (apoio de 8,9%), rejeição de 76% aos partidos (apoio de 7,3%). 55% não pretendem votar no candidato presidencial em que votaram na última eleição. No Nordeste, entretanto, 58,7% repetiriam o voto. Três entidades gozam de boa credibilidade: Igreja, apoio de 61% e rejeição de 19,5%; militares, apoio de 45,9% e rejeição de 29,6%; juízes, apoio de 42,2% e rejeição de 32,8%.

Claro, tais fatos se refletem no apreço à democracia entre os brasileiros. Para 44,2% deles não existe democracia no Brasil. Para 20,7%, de alguma maneira, existe.

Volto a números coletados pela Paraná Pesquisas (agora nacionais), relacionados com o tema em análise. Para 70,1% da população brasileira não há diferença entre PT e PSDB. Para 26,9%, existem. Nas eleições para deputado federal em que partido votariam? 18,2% votariam em tucanos. 14,5% votariam em petistas. 63,7% em nenhum dos dois. Perguntados se “o sr(a) seria a favor ou contra uma intervenção militar provisória no Brasil?”, 51,6% se manifestaram contra, 43,1% se manifestaram a favor. Modificada a pergunta: “Caso a justiça não puna os corruptos, o sr(a) seria a favor ou contra a volta dos militares ao comando no Brasil?”, 50,6% se manifestaram a favor, 43,4% contra.

Sei, pesquisas são retratos momentâneos, imprecisas, têm erros de avaliação. Sua importância precisa ser relativizada, em especial no Brasil de divisões ideológicas fluídas, primitivismo, ignorância, desorientação dos espíritos. Informa o site “O Antagonista”, 13% dos eleitores de Bolsonaro têm Lula como segundo candidato; 6% dos eleitores de Lula têm Bolsonaro como segundo candidato. De qualquer maneira, os números representam alertas importantes, mostram quadro, ainda que esboçado, de luzes esperançosas e sombras importantes.


Somos passageiros do ônibus Brasil, trafegamos em velocidade alta em estrada lotada de avisos de curva perigosa, animais na pista, buracos, queda de barreira, cerração. Lá em baixo, na pirambeira, avistamos arrebentada a jardineira Venezuela. Olho aberto, dentro de menos de ano o ônibus poderá sair fora da estrada ou chegar a bom destino. Depende de nós.

sexta-feira, 20 de outubro de 2017

O Brasil tem solução?

O Brasil tem solução?

Péricles Capanema

Em relação ao Brasil, a sensação generalizada é de barco à deriva. Em alto mar, ondas revoltas, sem curso faz tempo, vaga o navio com o leme entortado. E pior, arrisca ficar nesse balanço, desgovernado, por muito tempo. Assim está a Venezuela, tão querida do PT, torturada pela esquerda anos sem fim.

O que virá após a abertura das urnas em 7 de outubro de 2018? Teremos Câmara nova (513 deputados), Senado renovado em dois terços (54 senadores), 27 governadores novos e um presidente da república novo (para os últimos dois cargos, talvez segundo turno em 28 de outubro). Norte? O temor é o desnorte.

Vejamos o pior cenário. Já se fala em Brazuela, abismo em que rolaríamos caso Lula ou um preposto, apoiado seu, abiscoite as eleições em 2018, acompanhado por bancadas expressivas na Câmara e no Senado. De momento não parece absurda a hipótese. A última pesquisa Datafolha indica Lula ganhando em primeiro e segundo turno. Venceria Bolsonaro (47% a 33%), Marina (44% a 36%), Alckmin (46% a 32%), Dória (48% a 32%). Em uma das simulações do Datafolha para o primeiro turno, teríamos Lula (36%), Bolsonaro (16%), Marina (14%), Dória (8%), Álvaro Dias (4%), Meirelles (2%), Amoêdo (1%), Brancos/Nulos/Nenhum (16%). Em sentido contrário, para completar o quadro, as principais rejeições: Lula (42%), Bolsonaro (33%), Marina (26%), Dora (26%), Meirelles (25%). Em geral se considera, um candidato com mais de 40% de rejeição dificilmente leva no segundo turno. Outro ponto, começam a circular com certa estabilidade dados de tímida recuperação econômica. Se o fato continuar até as eleições, diminuirá o voto protesto, que de momento na maioria dos casos vai para Lula.

Curto, enorme indefinição, cenário propicio para surpresas em geral ruins. Uma delas: Eunício Oliveira, presidente do Senado, prócer do PMDB, empresário rico, declarou há pouco: “Se não houver um entendimento nacional, se não houver uma aliança local que me obrigue diferente, eu sou eleitor do Lula.”

Lula pode ser condenado em segunda instância pelo TRF-4. Condenado por órgão colegiado, comanda a Lei da Ficha Limpa, ele vira ficha-suja, inabilitado para disputar eleições. Melhorando, representa a interpretação mais generalizada, existem pareceres em contrário. A opinião mais comum, se o caso for julgado pelo TRF-4 antes da eleição e Lula condenado, o ex-presidente terá negado o registro da candidatura. Se o TRF-4 julgar o caso após 15 de agosto (último dia para o registro de candidaturas), Lula, se condenado, tanto pode ter o registro negado ou concorrer sub judice. Se abocanhar a eleição, correrá o risco de não ser diplomado. Ocorrendo condenação após diplomação (meados de dezembro), o diploma pode ser declarado nulo. Contudo, a Constituição determina suspensão do processo para o caso do Presidente da República. Chega, né? Não vou atormentar mais os leitores com desenlaces legais possíveis, dependentes de sentenças dos tribunais. Uma coisa é certa, o cipoal jurídico aumenta o atordoamento no público.

Pretenderia nestas linhas mostrar a trágica falta de rumos da nação, passo inicial de qualquer solução. Para tentar encontrar saída útil faz falta a ideia clara da desorientação geral na brenha de balbucios, palpites, chutes, superficialidades e precipitações. É como acender lamparina na escuridão.

Adiante no mesmo trilho. Faça um teste. Junte quatro amigos ou mais e de chofre lhes pergunte o que acham da situação do Brasil. Na barafunda, aparecerão as mais desparafusadas opiniões. A seguir, indague deles a solução. Se alguém tirar plano da cachola, o mais provável é que todos os outros o julguem despropositado. Mais um pouco de prosa no mesmo assunto e os participantes, antes confusos, sentir-se-ão zonzos. Então o normal será a mudança de tema (fuga). A conversa deslizará para o deboche, futebol, piadas, sei lá mais o quê; ou despencará em pântano depressivo. Esse cavaco é imagem do Brasil. O mais grave de imediato é a espantosa confusão nas cabeças. Desse mato não sai coelho (coisa boa), podem sair cobras, lagartos, lobos.
Antes, cena imaginada; agora, fato de importância. O Estadão noticiou que empresários de peso estavam se articulando para influenciar as eleições de 2018. Pretenderiam pôr de pé o movimento Renova Brasil. Por enquanto, são jantares, encontros, grupos no Whatsapp, artigos, promessas de financiamento. Um desses empresários, que quis o nome preservado, declarou à reportagem: “A gente fala, fala, fala. E tem hora que desanima porque não sabe o que fazer”. Fala, fala, fala, a desorientação. E não sabe o que fazer: são os sem-rumo. Como o Brasil todo. Mesmo sem saber o que fazer, continuam, já é alguma coisa: “Mas estamos buscando uma solução”. Infelizmente não se encontra solução profícua sem saber o que fazer.

Entre os empresários que estão se movimento se destaca o apresentador Luciano Huck; virou presidenciável. Chamo a atenção, um de seus quadros mais populares nos programas de televisão é a ajuda a pessoas que precisam. Retenham isso, o homem tem dó dos pobres.

Pesquisa recente com a pergunta “Quem é o que mais vai defender os pobres?” deu a seguinte resposta: Lula (29,8%), Luciano Huck (12,0%), Bolsonaro (7,1%), Marina (6,7%), Geraldo Alckmin (0,80%). O tucano, e outros tucanos como ele, saíram-se muito mal. Claro, a pesquisa fortaleceu as chances de Luciano Huck. Anotem, ponto a ter sempre em vista em qualquer busca de solução para o Brasil.

Em 28 de julho último publiquei artigo intitulado “Compaixão cruel” em que dizia:“Ao longo dos anos, com altos e baixos, foi comum a votação petista estar em torno dos 30%. As porcentagens parecem indicar, a crise de corrupção e desgoverno dos governos Lula e Dilma não erodiu grave e estavelmente a base social sobre a qual, historicamente, apoia-se o PT. [...] Existem raízes fundas em dois ingredientes dessa base de apoio. Parte dela é composta dos mitomaníacos da igualdade. Por ódio à desigualdade, preferem todos pobres, miseráveis mesmo, desde que não desiguais. Apoiam os irmãos Castro em Cuba e Nicolás Maduro na Venezuela. Apoiariam Stalin e Mao. E votam PT no Brasil. O outro ingrediente vota PT por que julga que o partido, ainda que lotado de ladrões e incompetentes, tem pena dos pobres, trabalha para eles. Pessoas de bom coração sofrem com o sofrimento dos pobres e só por isso o PT merece o voto. Não é indiferente à sorte deles. Tal compaixão, na prática crueldade social grave, favorece a manutenção de regimes que são flagelo para os pobres.”

Volto à estrada e martelo. Ter pena dos pobres no Brasil, real ou ficta, é gigantesco trunfo eleitoral. No contrário, fustigar candidato como adversário dos pobres dá votos. Se Luciano Hulk for o candidato anti-Lula, podem esperar, virão ataques de que ele não se preocupa com pobres, só é amigo dos ricos e vai enriquecer ainda mais os grupos econômicos.

Pergunto: é solução? Ou, pelo menos, representa passo no caminho da solução? Prematura a resposta. Se a candidatura se consolidar, vai depender do programa. O apresentador publicou artigo na Folha, generalidades vistas com simpatia pelo público, soou como começo de jogo. Quer na política ética, compromisso, altruísmo. Quem os tiver será bem-vindo: “A renovação política passa por eles, não importa se de esquerda, direita, centro. Tanto faz”. Tanto faz nada. Preocupa. Importa muito ser de centro, direita ou esquerda. Pode ter um programa estatista, libertário, favorecedor do comunismo, mas se não puser dinheiro público no bolso, tiver compromisso com o povo e não for egoísta, está bem? Stalin caberia dentro. O PSOL, à esquerda do PT, alardeia isso.

A exposição Queermuseum, propaganda até da zoofilia, e as cenas blasfemas do MASP, gravíssimas ofensas a Nossa Senhora, pela repercussão no Brasil inteiro, mostram que provavelmente os assuntos morais e religiosos influenciarão muito as eleições de 2018. A ideologia do gênero, ideologia xodó das esquerdas e das correntes libertárias, desperta reações fortíssimas no público, com potencial para abater candidaturas. Frente a tudo isso, qual a posição de Luciano Hulk e dos outros candidatos? A seu tempo, precisarão se manifestar.

Hora de acabar. A solução de fundo supõe ▬ haverá muita coisa mais ▬, fortalecimento da família. Maior influência da religião, moralidade pública geral. Na prática temos desagregação familiar, religião em queda e corrupção de alto a baixo. Nem falo aqui do recurso sério a Deus, único caminho que nos levaria a soluções realmente salvadoras.


E de imediato? Tudo indica, lamento, teremos forte componente populista nas eleições de 2018. Na esteira do populismo, virão programas esquerdistas, até de natureza extremada, rota péssima para o Brasil. E a demagogia vai correr solta para fazê-los vitoriosos. Precisam ser denunciados e combatidos, claro. Já agora em esfera pessoal, reclamemos dos candidatos compromissos claros favorecedores da família, da moralidade, da livre iniciativa. Inexistindo, não terão o voto. Já é lamparina na escuridão, medida cautelar contra maiores desastres pós-2018.