quinta-feira, 3 de agosto de 2017

Não lavo as mãos na bacia de Pilatos


Péricles Capanema

Em 16 de julho, na reunião de abertura do 23º Encontro do Foro de São Paulo (organização fundada por Fidel Castro e Lula para coordenar ações de partidos esquerdistas da América Latina), realizada em Managua, capital da Nicarágua, a senadora Gleisi Hoffmann, presidente do PT, entre outras abominações, das quais algumas abaixo, apoiou enfaticamente a farsa da Constituinte venezuelana: “O PT manifesta seu apoio e solidariedade ao governo do PSUV, seus aliados e ao presidente Nicolás Maduro. Temos a expectativa de que a Assembleia Constituinte possa contribuir para uma consolidação cada vez maior da revolução bolivariana”. Foi adiante na mesma direção: “Aproveitamos para manifestar nosso irrestrito apoio e solidariedade aos companheiros do Partido Comunista Cubano. Este ano comemoramos o centenário da Revolução Russa de 1917 e também o cinquentenário da queda em combate do guerrilheiro heroico o comandante Ernesto Che Guevara”. De novo o PT manifesta, em autenticidade reveladora, seus pendores tirânicos na imposição do programa socialista, orgulhoso de se colocar na esteira do comunismo russo e do comunismo cubano.

Em 30 de julho, o Conselho Eleitoral da Venezuela (CNE) anunciou que 41,53% dos eleitores elegeram a nova Assembleia Nacional Constituinte. Teriam comparecidos 8.089.320 eleitores, 41,53% do total. A oposição afirma, houve fraude escandalosa. O comparecimento terá sido de 12,4% do eleitorado. Leopoldo López e Antonio Ledezma, líderes da oposição, voltaram a ser presos, provocando grandes reações internas e internacionais O governo venezuelano, indiferente, com a medida deixava claro a intenção de radicalizar no caminho encetado.

A Conferência Episcopal Venezuelana, em sua conta do Twitter, imediatamente postou pungente súplica a Nossa Senhora de Coromoto, padroeira da Venezuela: “Virgem Santíssima, Nossa Senhora de Coromoto, padroeira celestial da Venezuela, livrai a nossa pátria das garras do comunismo e do socialismo”. Poucos dias antes, Dom Jorge Uroza, cardeal-arcebispo de Caracas, advertiu, “o país está em ruínas e as pessoas estão morrendo de fome”. Alertou ainda o Purpurado: “Falta comida, remédios, temos a inflação mais alta do mundo, o povo rechaça o governo”.

No Exterior, a Rússia tomou clara posição a favor de Nicolás Maduro: “Esperamos que aqueles membros da comunidade internacional que querem rejeitar os resultados das eleições venezuelanas e aumentar a pressão econômica sobre Caracas mostrem contenção e renunciem a estes planos destrutivos”, advertiu comunicado do Ministério do Exterior da Rússia. Cuba, Equador, Nicarágua na mesma direção de respaldo vergonhoso.

No Brasil, PT, PC do B, PSOL e PCB aprovam a tirania bolivariana. José Dirceu foi cinicamente claro: “O massivo comparecimento à eleição da Assembleia Nacional Constituinte, convocada pelo presidente Nicolás Maduro, abre um caminho institucional e democrático para resolver a crise venezuelana”. Ainda no Brasil, o PDT e Rede evitam se posicionar por razões facilmente conjeturáveis; deixar público o que sente o coração pode escandalizar e tirar votos. Por seu lado, até agora, a CNBB, histórica companheira de viagem do PT, também não se posicionou. Entristece a no mínimo lerdeza da CNBB em seguir o bom exemplo de sua irmã, a Conferência Episcopal Venezuelana. Tomara não caminhe, como é o deprimente hábito, nos passos do PT acolitando uma ditadura assassina, que esfomeia o povo, segundo palavras do cardeal-arcebispo de Caracas.

O governo brasileiro age bem, não reconhece a legitimidade da Constituinte. Diz nota do Itamaraty de 1º de agosto: “O governo brasileiro repudia a recondução ao regime fechado de Leopoldo López e Antonio Ledezma, ocorrida um dia após a votação para a escolha de uma assembleia constituinte em franca violação da ordem constitucional venezuelana. O Brasil solidariza-se com o sofrimento dos familiares de Antonio Ledezma e Leopoldo López, em particular suas mulheres, Mitzi Capriles e Lilian Tintori. A prisão de dois dos mais importantes opositores ao governo do presidente Nicolás Maduro é mais uma demonstração da falta de respeito às liberdades individuais e ao devido processo legal, pilares essenciais do regime democrático. O Brasil insta o governo venezuelano a libertar imediatamente López e Ledezma”.

O Brasil agirá em sintonia com vários países da América Latina na condenação às atitudes tirânicas do governo venezuelano. Ótimo. Na mesma direção, agirá a Comunidade Europeia. De maior importância, os Estados Unidos têm linguagem e ação mais contundente. O presidente Donald Trump declarou pouco dias antes da votação para a Constituinte: “Ontem, o povo venezuelano mais uma vez deixou claro que apoia a democracia, liberdade e a lei. Ainda assim suas ações fortes e corajosas continuam sendo ignoradas por um líder ruim que sonha em se tornar um ditador. Os Estados Unidos não ficarão parados enquanto a Venezuela desmorona. Se o regime de Maduro impuser sua Assembleia Constituinte em 30 de julho, os EUA irão tomar ações econômicas fortes e rápidas". Já foram decretadas sanções duras. Outras virão. Condenações e sanções de países de regime democrático e de organizações internacionais de relevo estão prometidas, certamente acontecerão com efeitos benéficos.

Visto isso, o que faz aqui o título do artigo? Tudo, embora à primeira vista possa parecer o contrário. As por ora medidas tomadas pelos grandes do mundo em defesa do pequenino aos olhos dos potentados, esfomeado e tiranizado povo venezuelano são insuficientes. Gritantemente insuficientes.

Pilatos diante da turba enfurecida, reconheceu a inocência de Nosso Senhor, aliás solar. É juízo de um espírito que via com retidão e justeza. Representava ali o maior poder da Terra, falava em nome da justiça e nada fez de eficaz para defender o Justo, a seus olhos pobre um desvalido galileu. Omitiu-se, passou à História como exemplo repugnante de oportunista covarde. Ninguém levou a sério o “a vós pertence toda a responsabilidade”. Pertencia a ele. “Pilatos, vendo que nada aproveitava, mas que cada vez era maior o tumulto, tomando água, lavou as mãos diante do povo, dizendo: Eu sou inocente do sangue deste justo; a vós pertence toda a responsabilidade” (Mt, 27, 24-25).


Se os grandes da Terra lavarem as mãos na bacia de Pilatos, o homem que reconheceu a inocência de Cristo, o injustiçado povo venezuelano, como Cristo, objeto da compaixão inerte de tantos, subirá o Calvário e à vista de todos será crucificado no Gólgota pelos modernos carrascos da legítima esperança popular. Minha súplica aqui é, cada um dos grandes que agora falam, possa também proclamar com verdade: “não lavo as mãos na bacia de Pilatos”. Para isso, reverente repito a oração postada no site da Conferência Episcopal Venezuelana: ““Virgem Santíssima, Nossa Senhora de Coromoto, padroeira celestial da Venezuela, livrai a nossa pátria das garras do comunismo e do socialismo”.

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