quinta-feira, 29 de junho de 2017

Queijos bem partidos, queijos mal partidos

Queijos bem partidos, queijos mal partidos

Péricles Capanema

Ouvi um tanto de vezes: “Por aí, assim o queijo fica bem partido”. Situação encaminhada de forma satisfatória, com senso das proporções. Ainda: “Caso sem saída, queijo mal partido”. Equivale a situação resolvida sem levar em conta todos os fatores, cada um na devida proporção. O caso da NATO corre risco de virar queijo mal partido. Com efeitos enormes, quem sabe apocalípticos, ao longo das décadas.

O presidente Donald Trump, em sua primeira viagem internacional, foi a Riad, Jerusalém e Roma. Ali participou da reunião do G-7 e ainda visitou alguns países da Aliança Ocidental. Mais uma vez, o compromisso norte-americano com a defesa da Europa deixou a desejar. E nesse copo alarma a menor trinquinha.

Um destaque, em discurso no novo quartel general da NATO Trump evitou mencionar o artigo 5 do Tratado que era o ponto esperado, até mesmo por sua equipe de segurança. Afirma: “As Partes concordam em que um ataque armado contra uma ou várias delas na Europa ou na América do Norte será considerado um ataque a todas, e, consequentemente, concordam em que, se um tal ataque armado se verificar, cada uma, no exercício do direito de legítima defesa, individual ou coletiva, [...] prestará assistência à Parte ou Partes assim atacadas, praticando sem demora, individualmente e de acordo com as restantes Partes, a ação que considerar necessária, inclusive o emprego da força armada, para restaurar e garantir a segurança na região do Atlântico Norte”.

A omissão, deixando pairar no ar a hipótese do descompromisso e distanciamento, enraizou desconfianças que já existiam desde a campanha eleitoral. Por exemplo, os Estados Unidos não mais defenderiam alguma pequena nação agredida pela, nem precisaria dizer, Rússia?

Nesta mesma ocasião, a chanceler Ângela Merkel, ecoando preocupação comum entre europeus, declarou: “Os tempos em que podíamos contar inteiramente com o apoio de outros de alguma maneira já estão no passado. Tive esta experiência nos últimos dias [ela havia se encontrado com Donald Trump recentemente] Tudo o que posso dizer é que nós, os europeus, devemos tomar nosso destino em nossas próprias mãos, naturalmente com relações amigas com os Estados Unidos e Inglaterra. [...] até com a Rússia. Mas precisamos reconhecer que devemos lutar pelo nosso futuro como europeus”.

A principal queixa de Donald Trump, os europeus, em especial os alemães, não estão pagando o que seria razoável [fair share]. Enriqueceram, são os maiores interessados, mas relutam em meter a mão no bolso. E ainda que a Alemanha tem um superávit comercial gigantesco com os Estados Unidos.

“Temos um gigantesco déficit comercial com a Alemanha, e além disso os alemães pagam muito menos que deveriam para a NATO e em despesas militares, isso vai mudar”, tuitou o Presidente. Tem razão. Em 2016 o déficit foi de 67,8 bilhões de dólares. Os Estados Unidos utilizam 3,6% de seu PIB em gastos militares (75% do orçamento da NATO está nas costas do tio Sam). A Alemanha gasta 1,2%. Em 2014, os na ocasião 28 membros da NATO prometeram empregar 2% do PIB em despesas militares. De momento, só 5 dos agora 29 membros cumprem tal meta.

Afirmei, Trump tem razão. Pergunto: tem inteira razão? Busco ditado francês le ton fait la chanson, o tom muitas vezes é mais importante que o conteúdo da canção. Complemento da minha pergunta: Está bem calibrado o tom da exigência? É hora própria? Tenho cá minhas dúvidas

A NATO começou com o Tratado de Bruxelas, aliança contra a ameaça soviética, assinado em 17 de março de 1948 por Bélgica, Holanda, Luxemburgo, França, Reino Unido. Veio o bloqueio de Berlim e o golpe de Praga. Na atmosfera de Guerra Fria os Estados Unidos se juntaram aos europeus; em 4 de abril de 1949 foi firmado o Tratado do Atlântico Norte. Além dos cinco países, acima referidos, a nova aliança incluía Estados Unidos, Canadá, Portugal, Itália, Noruega, Dinamarca, Islândia. Em 1952, Grécia e Turquia, em 1955, Alemanha, uniram-se à NATO. O objetivo primeiro sempre foi ser uma barreira contra as agressões do comunismo soviético. Em resposta, 1955, a Rússia criou o Pacto de Varsóvia.

Com a queda do Muro de Berlim, o fim do Pacto de Varsóvia, a reunificação alemã, o quadro se modificou rapidamente. Hoje a NATO abarca 29 países, além de três na fila: Bósnia e Herzegovina, Geórgia e Macedônia. Debaixo do guarda-chuva dos Estados Unidos se protegem das investidas do expansionismo russo, jihadismo islâmico e ciberataques. E se o guarda-chuvas se fechar? Desamparados, para onde rumarão?

Não custa lembrar, mutatis mutandis, os Estados Unidos, como protetores da ordem, representam hoje o que, no passado, foram o Papa e o Imperador do Sacro Império. Asseguravam a existência normal da Cristandade. A Europa é o que restou da Cristandade. Ali estão (e seus herdeiros) os países de raízes cristãs ou, se quisermos, a civilização ocidental e cristã, expressões que evocam a origem medieval. Temos realidade mais fundamental para a perenidade da Fé e da civilização? A discussão de reivindicações justas em ambiente acerbo, enquadrada por horizontes limitados, facilmente criará caldo de cultura em que pululem toda sorte de ressentimentos e dilacerações.


Na presente quadra histórica, o esfacelamento da NATO pode gerar efeitos parecidos com o fim do Império Romano em 476, ele também exercendo funções políticas com traços comuns às discutidas acima, tutela do espaço de convivência civilizada na Antiguidade. Abriu as portas para invasões e período de grande instabilidade. Esse queijo de agora precisa ser muito bem cortado.

terça-feira, 27 de junho de 2017

A esmola rara da verdade

A esmola rara da verdade

Péricles Capanema

“Tive fome, e destes-me de comer; tive sede, e destes-me de beber; era estrangeiro, e hospedastes-me; estava nu, e vestistes-me; adoeci, e visitastes-me; estive na prisão, e foste me ver” (Mt 25; 35-36). Na mesma direção, poderíamos acrescentar: sedento da verdade, ouvi-a de ti.

Pode surpreender, mas o texto me tomou o espirito enquanto ouvia discurso aos cubanos do presidente Donald Trump, em Miami. Martelava verdades silenciadas na imprensa e há muito evitadas pelos Chefes de Estado e até por eclesiásticos. A patrulha as proíbe, a tirania do politicamente incorreto as sufoca na garganta de quase todos. Contudo, indispensáveis na atualidade, em especial para a América Latina. Recebi agradecido a esmola rara da verdade.

Vou ecoá-las, resumidamente em alguns trechos (a íntegra está na rede): “Os exilados e dissidentes hoje aqui testemunharam o comunismo destruir uma nação, como sempre acontece onde o comunismo é aplicado. Contudo não mais nos manteremos silenciosos diante da opressão comunista. No ano passado eu prometi ser uma voz a favor da liberdade do povo cubano. Os Estados Unidos divulgarão os crimes do regime castrista e apoiarão o povo cubano em sua luta pela liberdade. Pois sabemos que é melhor para os Estados Unidos que haja liberdade em nosso hemisfério, seja em Cuba ou na Venezuela. Por quase seis décadas, o povo cubano sofreu debaixo do domínio comunista. Até hoje o povo cubano é dirigido pelas mesmas pessoas que mataram dezenas de milhares de seus próprios cidadãos, que tentaram disseminar sua ideologia fracassada e repressiva em nosso hemisfério. O regime castrista enviou armas para a Coréia do Norte e provocou o caos na Venezuela. Ao mesmo tempo que prendia inocentes, acolheu assassinos de policiais, sequestradores e terroristas. Apoiou o tráfico de humanos, o trabalho forçado e a exploração no mundo inteiro. Esta é a verdade simples sobre o regime castrista. Meu governo não esconderá tais fatos, não os desculpará, não os glamoralizará. Nunca será cego para eles. Vou cancelar imediatamente o acordo parcial feito pelo governo anterior. Anuncio agora uma nova política com Cuba. Procuraremos um acordo mais vantajoso para o povo cubano e para os Estados Unidos. Não suspenderemos as sanções contra o regime cubano até que todos os prisioneiros políticos sejam libertados, haja liberdade de reunião e expressão, partidos políticos legalizados, eleições livres sob supervisão internacional e com data marcada. Quando Cuba estiver pronta para dar passos concretos nessa direção, nós também estaremos prontos, desejosos e capazes de oferecer um acordo muito melhor para os cubanos. Um acordo justo, um acordo que faça sentido. Respeitaremos a soberania cubana, mas nunca daremos as costas ao povo cubano”.

Não custa lembrar, quem discursava diante de uma colônia tantas vezes incompreendida e rejeitada era o Chefe de Estado da mais poderosa nação da Terra. Não eram apenas palavras bonitas, significavam e política de rumo novo, promissor. O acontecimento autorizava esperança de extirpação do câncer cubano, que infecciona a América desde finais da década de 50.

Ficou ainda mais escandaloso o apoio escancarado (rios de dinheiro do BNDES) e tantas vezes o silêncio de numerosos governos latino-americanos à ditadura sanguinária. Ficou ainda mais escandaloso o apoio que o castrismo sempre recebeu no Brasil da esquerda política e da esquerda eclesiástica. Reproduzo ignóbeis palavras de Lula: “o maior de todos os latino-americanos, comandante em chefe da revolução cubana, meu amigo e companheiro Fidel Castro”. Lembro escandalosas palavras de dom Paulo Evaristo Arns em carta a Fidel Castro: “O povo de seu País conseguiu resistir às agressões externas para erradicar a miséria. Hoje em dia Cuba pode sentir-se orgulhosa de ser exemplo de justiça social. A fé cristã descobre nas conquistas da Revolução um ensaio do Reino de Deus”.


Volto ao início. Tive fome, e destes-me de comer. Libertar Cuba do comunismo vai abrir o caminho para o aumento da produção, e para que o povo deixe décadas de privação e fome. Era estrangeiro, e hospedastes-me. Hoje o comunismo tornou Cuba estrangeira ao seu mais poderoso vizinho, estrangeira a tantas nações, irmãs por laços de sangue, civilização e religião. O fim do comunismo fará com que volte ao convívio normal nas Américas. Estive na prisão e foste me ver. Com a queda do castrismo, as prisões políticas se abrirão e os cubanos, hoje prisioneiros nas próprias casas, poderão livremente falar e influir nos destinos de Cuba. Uno-me às esperanças dos cubanos.

domingo, 25 de junho de 2017

A CNBB, mais uma vez, agrava a exclusão social

A CNBB, mais uma vez, agrava a exclusão social

Péricles Capanema

Em comunicado de 17 de maio o CIMI (Conselho Indigenista Missionário) agrediu o relatório da chamada CPI da FUNAI/INCRA (solicitou o indiciamento de 14 missionários), com expressões como as abaixo transcritas: “A CPI da FUNAI/INCRA mostrou-se parcial do início ao fim dos trabalhos. Criada e relatada por ruralistas para atender os interesses ruralistas e atacar os povos originários. Descomprometidos com a verdade, os ruralistas tentam criminalizar mais de uma centena de lideranças indígenas, indigenistas, religiosos e cientistas sociais. Tentativa de retorno ao escravagismo no campo e venda do território brasileiro para estrangeiros por parte dos ruralistas [suposto objetivo dos deputados ruralistas e de seus apoiadores]. Chama a atenção a forma racista de os ruralistas se referirem a lideranças e povos indígenas. Trata-se de ranço colonialista que acentua o preconceito contra os povos originários de nosso país. Outrossim, preocupa a onda de massacres cruéis cometidos por fazendeiros e seus jagunços contra povos indígenas, quilombolas e camponeses Brasil afora”.

Longe da concórdia, que nasce da caridade, esse é o tom do órgão que supostamente coordena atividades de missionários, cuja missão é arrancar os indígenas do paganismo e conduzi-los ao Catolicismo. Labuta de pregação, convencimento, conversão, de fato, altamente civilizatória. Tarefa de harmonia e de inclusão.

Missão é uma coisa; trabalho efetivo, outra. Exemplo da atividade real: intolerante, o CIMI investe contra os fazendeiros. Alguém no Brasil acredita que exista “onda de massacres” promovidas por fazendeiros, dirigida contra índios, quilombolas e camponeses? E que os ruralistas procuram reinstalar a escravidão no campo e vender suas terras a estrangeiros? O órgão unido à CNBB prejudica os pobres, ao jogá-los contra o agronegócio, que está evitando a quebra do Brasil e a precipitação numa miséria como a da Venezuela e Cuba, para onde nos conduzirá a ação das correntes que apoiam o CIMI, como MST, CPT, CUT, entidades e partidos afins.

Uma entidade afim: a CNBB (para tristeza dos católicos). Em comunicado de 22 de junho a CNBB se apressou em defender o CIMI: “O Conselho Permanente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB, reunido em Brasília - DF, nos dias 20 a 22 de junho de 2017, manifesta seu total apoio e solidariedade ao Conselho Indigenista Missionário (CIMI) diante das infundadas e injustas acusações que recebeu da Comissão Parlamentar de Inquérito, denominada CPI da Funai e Incra. O indiciamento de missionários do CIMI é uma evidente tentativa de intimidar esta instituição tão importante para os indígenas. Tenha-se em conta ainda que as proposições da CPI se inserem no mesmo contexto de reformas propostas pelo governo, especialmente as trabalhista e previdenciária, privilegiando o capital em detrimento dos avanços sociais. Tais mudanças apontam para o caminho da exclusão social”. Assinam o documento dom Sérgio, cardeal-arcebispo de Brasília, dom Murilo, arcebispo de Salvador e dom Leonardo, bispo-auxiliar de Brasília, respectivamente, presidente, vice-presidente e secretário-geral da CNBB.

O avanço social no Brasil está ligado ao estímulo dos investimentos, tanto o público como o privado, os quais dependem fortemente de reformas sensatas nos âmbitos trabalhista e previdenciário. Fracassando, minguarão as aplicações, a produtividade tenderá a estacionar. Na prática, a proposta da CNBB petrifica o atraso. E, no bojo de outras de igual inspiração, favorecerá o retrocesso, com o agravamento da miséria. De passagem avanço social autêntico é o que propicia, com proporção, condições para que os membros do corpo social atinjam a plenitude de suas potencialidades e não o que favorece desnaturadas políticas igualitárias.

Dois pontos finais a destacar. Primeiro, convém ter em vista dados divulgados pela revista EXAME e em particular pelo dr. Evaristo de Miranda. Existem hoje no País 584 terras indígenas, ocupam 114.699.057 ha, por volta de 14% do território nacional. Deambulam no Brasil 869,9 mil indígenas, aproximadamente 0,42% da população. Os 0,42% povoam os 14% do território nacional a eles destinados? Que nada. Um em cada três dos índios (36,2%) reside nas cidades, 63,8% habitam áreas rurais. Entre os que estão fora das terras indígenas, só 12,7% falam alguma língua indígena. Dentre os íncolas das terras demarcadas, 78,9 mil se declaram de outra raça, dos quais 70% pardos. Dos 869,9 mil, 147,2 mil não sabem a qual etnia pertencem. Em geral vivem em casas. Nas terras demarcadas, 2,9% moram em ocas. Nas terras indígenas, a energia elétrica chega a 70,1% dos domicílios. 76,7 dos índios são alfabetizados em português. Resumo, o CIMI, força do atraso, em sua ação revolucionaria, afirma defender um índio que quase não existe mais, se um dia existiu. A maioria deles, como o brasileiro em geral, quer é crescer na vida.


O segundo ponto registro alegre por dever de justiça. Em nenhum momento a CNBB afirma, houve unanimidade no Conselho Permanente. Levanta a suspeita de oposição interna mesmo que muda. A propósito, ainda, em março, dom Odilo, cardeal-arcebispo de São Paulo, marcou distância em relação às posições oficiais da CNBB: “Penso que de toda maneira há necessidade de reformas tanto na lei trabalhista como na lei da Previdência. Sim, acho que é necessário fazê-las e fazê-las bem”.

segunda-feira, 12 de junho de 2017

A Europa sitiada

A Europa sitiada

Péricles Capanema

Na esteira de ataques terroristas muçulmanos anteriores, 2015 e 2016, em 2017 atentados com traços parecidos traumatizaram França, Inglaterra e Alemanha e ainda outras nações da Europa. Provavelmente indicam padrão que tenderá a se repetir. Em jogo, o futuro do Velho Continente.

Lembro alguns poucos. Em janeiro de 2015, série de cinco ataques na região de Paris deixou 17 mortos e 22 feridos. Em novembro do mesmo ano, a casa de shows Bataclan e vários outros locais sofreram atentados de radicais muçulmanos, 137 mortos, 368 feridos. Em 14 de julho de 2016, festa nacional francesa, extremista muçulmano jogou caminhão contra multidão que, distendida, passeava em Nice, 87 mortos, 434 feridos. Na Inglaterra, em março de 2017, na Westminster Bridge, terrorista atropelou pedestres, esfaqueou policiais e deixou cinco mortos e cerca de 50 feridos. Manchester, em maio, atentado suicida em show da cantora Ariana Grande deixou 22 mortos, 129 feridos. Logo depois, em junho, terroristas muçulmanos jogaram uma van contra transeuntes na London Bridge e esfaquearam pessoas nas imediações; 7 mortos, 44 feridos. Na Alemanha, em dezembro de 2016, em mercado de Natal em Berlim, um terrorista dirigindo um caminhão matou 12 pessoas e feriu 56. Na Suécia, abril de 2017, caminhão utilizado como arma matou 5 e feriu 15 pessoas. Evoco ao final o padre Jacques Hamel, degolado por militantes do Estado Islâmico em julho de 2016.

São apenas exemplos das agressões terroristas por toda a Europa. Seus mentores esperam acarneirar a população; de outro modo, torná-la mais flexível a soluções favorecedoras dos objetivos islamitas. E os atentados fazem parte de realidade maior, destruidora se a ela a Europa não resistir vitoriosamente.

Vamos a alguns dados fundamentais. É de 1,6 a taxa de natalidade das mulheres alemãs, abaixo da porcentagem de simples reposição, 2,1. Ou seja, cai continuamente a população, hoje por volta de 82 milhões. O país necessita de 300 mil imigrantes anuais nos próximos 40 anos para manter população estável e, no médio prazo, garantir o Estado do bem-estar social, ali construído desde fins da 2ª Guerra Mundial. Tais imigrantes, muçulmanos na maioria, têm vindo em particular da África, Ásia e Oriente Médio. Convém ter em vista, a Alemanha chegou à atual população por causa de além de 1 milhão de imigrantes em 2015 e 750 mil em 2016. E na decisão de Angela Merkel, autorizar a entrada de mais de 1,5 milhão de imigrantes terão pesado não apenas razões humanitárias. Havia a necessidade de mão de obra jovem para manter viável o Estado de bem-estar social.

Hoje, a Alemanha abriga mais de 6 milhões de muçulmanos. Tal contingente cresce aproximadamente 77 mil pessoas por ano. Outro ponto, as populações muçulmanas na Europa têm média de idade menor que a alemã. E a taxa de natalidade das mulheres muçulmanas é maior que a das teutas. Persistindo as presentes tendências, mesmo desconsiderando o efeito da lei das reunificações familiares (um asilado, sob certas condições, pode trazer parentes), em 2060 mais de 25% por cento da população alemã será muçulmana. E situação parecida será vivida por outras nações europeias.

Problemas já hoje graves tomarão dimensão nova com o paulatino enraizamento e aumento de populações maometanas. Entre eles, tribunais da Sharia (justiça privada e grupal), aumento da criminalidade, poligamia, mutilação genital feminina, casamento de crianças, violências, por vezes até o assassinato, em nome da honra. Outros ainda, extremismo islâmico, antissemitismo árabe, lutas nacionais e étnicas. A Europa pode se tornar sementeira de terroristas, situação em parte já existente, pelo generalizado recrutamento de homens-bomba e jihadistas para grupos extremistas no interior de comunidades muçulmanas, protegidas pelas leis nacionais e tornadas viáveis pelas redes de proteção social.

Como assimilar tal população? Aqui está a principal questão. Há um fenômeno amplo, os muçulmanos gradualmente estão se integrando à população. Em qual velocidade e até que ponto? Faltam pesquisas conclusivas, embora se crê que na Europa exista situação parecida com a dos Estados Unidos. Ali, 32% dos educados no Islamismo não mais professam tal religião na idade adulta. E 18% do mesmo grupo admitem não ter religião. Na Alemanha, metade dos 4,2 milhões de pessoas de origem muçulmana não se declaram muçulmanos quando adultos. É o agnosticismo disseminado, atinge também todas as religiões cristãs.

Em sentido contrário, subsistem e resistem raízes étnicas e costumes. É pequena a porcentagem dos muçulmanos que casam fora de sua religião. Na Alemanha, apenas 7,2% dos homens e 0,5% das mulheres são casados com pessoa de outra religião. Leo Lucassen e Charlotte Laarman da Universidade de Leiden estudaram o assunto. Considerando Alemanha, Bélgica, Holanda, Grã-Bretanha e França, na segunda geração, apenas 11% dos muçulmanos casavam fora de sua religião.

Em resumo, temos assimilação difícil, tanto mais que na Europa seus antigos moradores tendem para um multiculturalismo esfarelado. Pouca prática religiosa, agnosticismo generalizado, confusão mental. Apenas como exemplo, pesquisa recente indicou que 19% dos suecos disseram ter alguma religião, 23% dos tchecos, 26% dos holandeses, 30% no Reino Unidos e 34% na Alemanha. A ausência de religião tem reflexos na conduta moral e na orientação das concepções sócio-políticas.

A Europa se guiou outrora pelo ideal de Cristandade. Deu as costas a ele. Triunfou no campo secular um ideário em torno de princípios do Iluminismo, como democracia, direitos humanos, paz universal, apresentados como os novos fatores de união. Vão perdendo força, esfarelando, disse acima. No horizonte sobe ameaçadora a possibilidade da islamização. A Europa a venceu militarmente em 1456, 1571 e 1683. Volta ela contudo no século 21, mais insidiosa sob novos véus.

O que fazer? Falo como católico. Em primeiro lugar, súplices pedirmos o auxílio da Providência. Confiança, oração. Foi o primeiro e grande recurso de são João de Capistrano, são Pio V e do beato Inocêncio XI. A seguir, examinar o quadro inteiro com objetividade, não enterrando a cabeça na areia como muitos erroneamente pensam ser a atitude idiota do avestruz. E apoiar medidas de oposição à derrocada das muralhas, precisam estar rígidas.


A saída vitoriosa, hoje distante, é reatar com os princípios que inspiraram a Cristandade, forças vivas em 1456, 1571 e 1683, aplicando-os, adaptados a nossos dias. À vera, a Europa, mais que sitiada, está doente. O que a torna especialmente vulnerável à ameaça muçulmana. E nós latino-americanos, filhos espirituais de princípios lá triunfantes, em boa medida, para desgraça nossa, padecemos as mesmas enfermidades.