sábado, 29 de abril de 2017

O nazismo nas escolas brasileiras


Péricles Capanema

Está passando apuros sérios amigo meu de muitos anos, filha novinha matriculada em tradicional colégio religioso. Junto com outros pais de família, também com filhos ali estudando, luta para garantir futuro de realizações e felicidade para os alunos. Terá sucesso? Tomara. A direção do estabelecimento, com apoio de professores, ignoro em que proporção, procura impor no currículo e no comportamento pedagógico a ideologia do gênero. O risco, para quem o conhece bem, alarma.

O problema é mundial, inexistindo oposições empestará colégios e universidades brasileiras. E depois a sociedade inteira. Já durante o governo Dilma angustiou os pais e opinião pública em geral. O PT e de forma particular o ministério da Educação tentaram por todas as formas impor seu ensino no Brasil. Em 2014 o Congresso Nacional rejeitou a teoria (ou ideologia) do gênero. Assembleias e câmaras de vereadores votaram planos estaduais e municipais de educação, dos quais muitos continham a obrigação de ensinar a ideologia do gênero. Em geral na ocasião venceu o bom senso, estribado no horror dos pais e nas reações da sociedade civil.

Recordando, tal ideologia, agredindo a natureza, afirma que o masculino e feminino são construções sociais; se quisermos, construções culturais. Independem do sexo biológico. A pessoa nasce “neutra”. Pode nascer fêmea, escolher ser mulher ou escolher ser homem e, ao longo da vida, modificar sua escolha. Ou nascer macho, escolher ser homem ou mulher, e também modificar a escolha inicial. Ou ainda escolher outras possibilidades, sei lá quais seriam. Gênero e sexualidade são, para cada um, realidades mutáveis. Shulamith Firestone, das mais conhecidas autoras da ideologia, afirma: “O gênero é uma construção cultural. Homem e masculino poderiam significar tanto um corpo feminino como um masculino; mulher e feminino tanto um corpo masculino como um feminino”. Vai adiante: “A meta definitiva da revolução feminista” é “acabar com a própria diferença de sexos”.

Recordo realidades conhecidas. O objetivo da educação deve ser o pleno desenvolvimento das potencialidades que dormem na criança, sondando e respeitando suas inclinações e talentos naturais. É trabalho respeitoso, delicado, sistematizado e disciplinante, como o do jardineiro que aduba, rega e poda para que a planta, os frutos e as flores cheguem a seu esplendor. O jardineiro, contudo, não agride a natureza; pelo contrário, ajuda-a, quanto mais conhecer e estimula sua índole, mais êxitos terá. O educador é um jardineiro.

A doutrina dos gêneros, com base em delírios igualitários, imagina de forma mitomaníaca um homem que não existe. E busca totalitariamente moldar o menino e a menina a seus delírios. Nesse trabalho, reprime a liberdade natural da criança de agir segundo seus instintos naturais. Oprime o direito da menina e do menino de atingir de forma enérgica e harmônica os limites das boas inclinações da natureza que lhes é própria. Brincar de boneca? De casinha? Nada disso. Fruto venenoso de imposições culturais. O novo é exigir delas jogar um futebol duro com os meninos. Resultado, forma cidadãos desajustados, despreparados para a vida, incapazes de realizar adequadamente seus necessários papeis sociais, calcados na complementaridade dos sexos. Na experimentação delirante, sem esteio em nenhum estudo pedagógico sério, tal doutrina agrava exclusões, inibindo potencialidades que favorecem o convívio e a harmonia social.

Essa mania, enraizada em alucinações ideológicas, de moldar o homem e a sociedade foi ideia obsessiva do nazismo e do comunismo nas primeiras décadas do século 20. Era o homem novo, ideal das utopias totalitárias do século passado. E para isso oprimiam impiedosamente indivíduos, famílias, grupos sociais. Estamos diante de tentativa obstinada de formar outra vez o homem novo, agora com base na utopia da ideologia do gênero. Com roupagens atraentes para incautos, assim como foram em sua época as vestimentas do nazismo e do comunismo, grassa entre nós uma das mais totalitárias, invasivas, intervencionistas e fanatizadas ideologias que a humanidade conheceu.

Falei acima, a imposição se dá pela diretoria de colégio religioso. Acrescento: católico, de antiga ordem religiosa. Seus promotores, subservientes a esse neototalitarismo moderno, esbofeteiam descarada e despreocupadamente o mais recente magistério pontifício. Respigo abaixo, entre inúmeras, advertências de Bento XVI e do Papa Francisco contra a ideologia do gênero.

Denunciou Bento XVI em discurso de 21 de dezembro de 2012 à Cúria Romana: [O Papa começa expondo a importância da família] Na questão da família, não está em jogo meramente uma determinada forma social, mas o próprio homem: está em questão o que é o homem e o que é preciso fazer para ser justamente homem. [...] Se antes tínhamos visto como causa da crise da família um mal-entendido acerca da essência da liberdade humana, agora torna-se claro que aqui está em jogo a visão do próprio ser, do que significa realmente ser homem. [...] Hoje, sob o vocábulo ‘gender – gênero’, é apresentado como nova filosofia da sexualidade. De acordo com tal filosofia, o sexo já não é um dado originário da natureza que o homem deve aceitar e preencher pessoalmente de significado, mas uma função social que cada qual decide autonomamente, enquanto até agora era a sociedade quem a decidia. Salta aos olhos a profunda falsidade desta teoria e da revolução antropológica que lhe está subjacente. O homem contesta o fato de possuir uma natureza pré-constituída pela sua corporeidade, que caracteriza o ser humano. Nega a sua própria natureza, decidindo que esta não lhe é dada como um fato pré-constituído, mas é ele próprio quem a cria. De acordo com a narração bíblica da criação, pertence à essência da criatura humana ter sido criada por Deus como homem ou como mulher. Esta dualidade é essencial para o ser humano, como Deus o fez. É precisamente esta dualidade como ponto de partida que é contestada. Deixou de ser válido aquilo que se lê na narração da criação: ‘Ele os criou homem e mulher’ (Gn 1, 27). Isto deixou de ser válido, para valer que não foi Ele que os criou homem e mulher; mas teria sido a sociedade a determiná-lo até agora, ao passo que agora somos nós mesmos a decidir sobre isto. Homem e mulher como realidade da criação, como natureza da pessoa humana, já não existem. O homem contesta a sua própria natureza; agora, é só espírito e vontade. A manipulação da natureza, que hoje deploramos relativamente ao meio ambiente, torna-se aqui a escolha básica do homem a respeito de si mesmo. Agora existe apenas o homem em abstrato, que em seguida escolhe para si, autonomamente, qualquer coisa como sua natureza. Homem e mulher são contestados como exigência, ditada pela criação, de haver formas da pessoa humana que se completam mutuamente. Se, porém, não há a dualidade de homem e mulher como um dado da criação, então deixa de existir também a família como realidade pré-estabelecida pela criação. Mas, em tal caso, também a prole perdeu o lugar que até agora lhe competia, e a dignidade particular que lhe é própria. [...] Chega-se necessariamente a negar o próprio Criador; e, consequentemente, o próprio homem como criatura de Deus, como imagem de Deus, é degradado na essência do seu ser. Na luta pela família, está em jogo o próprio homem. E torna-se evidente que, onde Deus é negado, dissolve-se também a dignidade do homem. Quem defende Deus, defende o homem”.

O Papa Francisco segue nas pegadas do antecessor. Advertiu em discurso aos bispos poloneses em 27 de julho de 2016: “E aqui gostaria de concluir com um aspeto concreto, porque por detrás dele estão as ideologias. Na Europa, nos Estados Unidos, na América Latina, na África, nalguns países da Ásia, existem verdadeiras colonizações ideológicas. E uma delas – digo-a claramente por ‘nome e apelido’ - é o gender! Hoje às crianças – às crianças! –, na escola, ensina-se isto: o sexo, cada um pode escolhê-lo. E por que ensinam isto? Porque os livros são os das pessoas e instituições que te dão dinheiro. São as colonizações ideológicas, apoiadas mesmo por países muito influentes. E isto é terrível. Em conversa com o Papa Bento – que está bem e tem um pensamento claro – dizia-me ele: ‘Santidade, esta é a época do pecado contra Deus Criador’. É inteligente! Deus criou o homem e a mulher; Deus criou o mundo assim, assim e assim; e nós estamos a fazer o contrário. [...] Devemos pensar naquilo que disse o Papa Bento: ‘É a época do pecado contra Deus Criador’”!


A direção do colégio católico, com desprezo, jogou na lata de lixo as advertências do Vigário de Cristo atual e de seu antecessor. E trota atrás de um neototalitarismo. Penso voltar ao assunto.

quarta-feira, 26 de abril de 2017

Voto facultativo, a proposta enterrada

Voto facultativo, a proposta enterrada

Péricles Capanema

Passei os olhos nas propostas de reforma política divulgadas pelos jornais. Em nenhuma delas, desde as provenientes da direita até as oriundas da extrema-esquerda, nem por distração, constatei o fim do voto obrigatório e a instituição do facultativo. Seria normal.

Admito, podem existir muitos contra o voto facultativo, terão seus argumentos a favor do obrigatório; as pesquisas, contudo, registram a maioria dos brasileiros a favor do facultativo. É curioso, os deputados, tão sensíveis à voz do povo, aqui com ouvidos moucos, surdos à voz das ruas, impacientes em acabar com esse entulho autoritário.

Temos bons exemplos a seguir e maus exemplos a evitar. Alguns dos países em que há voto facultativo: Estados Unidos, Japão, Alemanha, Reino Unido, França, Itália, Espanha, Canadá. Alguns com voto obrigatório: Bolívia, Honduras, Panamá, República Democrática do Congo, Egito, Tailândia, Líbia.

Adiante. São despropositais e desproporcionais aa penalidades para quem não vota, não justifica e não paga multa. E se diz que votar é um direito! Se não votar, não justificar e não pagar multa, determina o Código Eleitoral, o coitado do brasileiro fica proibido de: I - inscrever-se em concurso ou prova para cargo ou função pública, investir-se ou empossar-se neles; II - receber vencimentos, remuneração, salário ou proventos de função ou emprego público, autárquico ou para estatal, bem como fundações governamentais, empresas, institutos e sociedades de qualquer natureza, mantidas ou subvencionadas pelo governo ou que exerçam serviço público delegado, correspondentes ao segundo mês subsequente ao da eleição; III - participar de concorrência pública ou administrativa da União, dos Estados, dos Territórios, do Distrito Federal ou dos Municípios, ou das respectivas autarquias; IV - obter empréstimos nas autarquias, sociedades de economia mista, caixas econômicas federais ou estaduais, nos institutos e caixas de previdência social, bem como em qualquer estabelecimento de crédito mantido pelo governo, ou de cuja administração este participe, e com essas entidades celebrar contratos; V - obter passaporte ou carteira de identidade; VI - renovar matrícula em estabelecimento de ensino oficial ou fiscalizado pelo governo; VII - praticar qualquer ato para o qual se exija quitação do serviço militar ou imposto de renda.

Sei, a multa é pequena (pode subir), mas não é o ponto.  Há desproporção entre delito (no caso, o não exercício de um direito) e pena. Ampliando, a razoabilidade e a proporcionalidade são princípios instrumentais na interpretação da Constituição e das leis. Pergunto: onde a razoabilidade? Onde a proporcionalidade aqui?

Desço para a situação atual. Dois de outubro próximo é prazo final para mudanças na legislação eleitoral, se as quisermos valendo para 2018 (as normas precisam estar vigentes até essa data, um ano antes do dia do primeiro turno). O Congresso tem menos de quatro meses para decidir, contado o recesso de julho.

Mantida a atual legislação, voto obrigatório inclusive, teremos eleições caríssimas para presidente da República, governadores, senadores, deputados federais, deputados estaduais. Já virou lugar comum, a democracia é regime dispendioso. Ninguém mais discute, os custos para manter a república brasileira estão a anos-luz dos custos da monarquia inglesa. Comparado aos nossos, é pechincha para o contribuinte inglês.

O financiamento público, mesmo pesando duro nos ombros do contribuinte, atenderá a pequena porcentagem dos gastos reais. O restante será coberto com dinheiro de outras fontes. Estão proibidas as contribuições de empresas; as contribuições individuais sempre foram irrisórias. O que poderá acontecer? Aumento do caixa 2 e, pior, doações de dinheiro sujo, como o proveniente do tráfico. Os chefões cobrarão depois a contrapartida.

Lideranças políticas importantes estão soprando um balão de ensaio: lista fechada, voto no partido. Nesse caso, baixariam enormemente os gastos, mas estarão eleitos os primeiros lugares da lista, escolhidos em convenções partidárias ou por indicações de cúpulas (os conhecidos dedazos). A reação a tal solução, de notórios inconvenientes, tem sido grande e o próprio presidente Temer declarou que a vetará, caso aprovada pelo Congresso.

Tema vastíssimo a reforma política. Só um ponto dela trato aqui: o voto facultativo. É rejeitado por líderes políticos de alto a baixo, não nos iludamos, por desvelar a inautenticidade de nosso sistema. Sem obrigatoriedade, ver-se-á de saída que o soberano, o povo, a ele virou as costas.

Um palpite, com voto facultativo, entre 20% e 30% votarão. 70% a 80% do eleitorado não terão interesse em se manifestar. Os votantes, interessados no pleito, precisarão de menores estímulos para ir às cabinas eleitorais. Menos dinheiro gasto. Outra vantagem, maior possibilidade de pessoas de valor se apresentarem às urnas. Com gastos menores, candidatos direitos, portadores de bom programa e com cabedal de ideias conhecido, se apresentarão em maior número. O que melhorará o nível de representação. Mais um lucro, presença apagada dos puxadores de votos, que hoje desvirtuam a representação. Um exemplo, o deputado Tiririca, da coligação PR-PRB-PT-PC do B–PT do B, em 2010, obteve 1.353.820 (6,35% do eleitorado do Estado mais rico e, no geral, com as melhores instituições de ensino do Brasil). Além de Tiririca, seus votos elegeram Otoniel Lima (PRB, 95.971 votos), Delegado Protógenes (PC do B, 94.906), Vanderlei Siraque (PT, 93.314). Desnecessário comentar.

Daqui a poucas semanas, provavelmente após as votações das reformas trabalhista e previdenciária, entrará na pauta a reforma política. Temo, o voto facultativo será o grande ausente, muito de quando em vez tratado. Para o Brasil faria bem escancarar a inautenticidade de seu sistema de representação política. “Veritas liberabi vos”, sempre.


Votaria quem quisesse. Quem não votasse, não sofreria punição, teria apenas deixado de exercer um direito. Como nas mais avançadas democracias do mundo.

terça-feira, 25 de abril de 2017

Os ratos estão deixando o navio

Os ratos estão deixando o navio

Péricles Capanema

O ex-frei Leonardo Boff em 21 de abril postou em seu blog análise totalmente elogiosa de artigo da jornalista espanhola Carla Jiménez, esquerdista extremada como ele, e, abaixo, divulgou o texto dela na íntegra.

Trechos do panegírico do corifeu da Teologia da Libertação: “Precisava vir alguém de fora, de uma jornalista Carla Jiménez do jornal espanhol El Pais (17/04/2017) para nos dizer as verdades que precisamos ouvir. Seguramente a grande maioria concorda com o conteúdo e os termos desta catilinária […]. Formou-se entre nós, praticamente, uma sociedade de ladrões e de bandidos que assaltaram o país, deixando milhões de vítimas, gente humilde de povo, sem saúde, sem escola, sem casa, sem trabalho e sem espaços de encontro e lazer. […] Nenhuma sociedade minimamente humana e honesta pode sobreviver com semelhante câncer […] Enganam-se aqueles [que julgam] que eu, pelo fato de defender as políticas sociais […] realizadas pelos dois governos anteriores, do PT e de seus aliados, tenha defendido o partido. A mim não interessa o partido, mas a causa dos empobrecidos que constituem o eixo fundamental da Teologia da Libertação, a opção pelos pobres […] causa essa tão decididamente assumida pelo Papa Francisco. É isso que conta”.

Acima, a opinião do antigo franciscano; em resumo, a jornalista diz verdades que precisamos ouvir. Extratos das tais verdades: “Um ministro da Fazenda, Guido Mantega, que determinava os destinos do dinheiro público depois de supostamente negociar milhões de doação com uma fornecedora do Governo, anotando valores a pagar ao partido num papelzinho, segundo Marcelo Odebrecht. Um irmão do ex-presidente Lula que teria recebido mesada de 6.000 reais por ser simplesmente irmão do ex-presidente, segundo outro. [...] As diretorias da Petrobrás eram do PT, PP e PMDB. […] Em determinado trecho da sua delação, Marcelo fala sobre um diálogo com Graça Foster, ex-presidente da Petrobras. ‘Sempre fui aberto com Graça… fui franco quando me perguntou… ‘, diz ele. Na conversa, admitia que pagara por fora para o PMDB e para o PT. […] Ao PT coube a maior fração [das propinas da Odebrecht], 408,7 milhões, porque estava com a máquina pública federal. […] Lula, por outro lado, mais do que os crimes a que responde, feriu de golpe a esquerda no Brasil. […] Se embebedou com o poder. […] Saiam todos, por favor. Vocês são maus exemplos”.

No texto formigam críticas severas a Lula e ao PT. O episódio foi comentado na imprensa, em especial nas redes sociais. Alguns dos comentários tinham como pano de fundo, consciente ou inconscientemente, Leonardo Boff patenteou o fracasso da política de apoio escancarado aos objetivos do PT, posta em prática por CNBB, Pastoral da Terra, CIMI, frei Betto e tantos outros. A esquerda católica tornou-se corresponsável da desgraça que se abate sobre o povo brasileiro. A respeito da atitude de Leonardo Boff, abundaram qualificações depreciativas, como covardia, hipocrisia, cinismo.

Estava evidente, perdia muito o ex-frei, perdiam muito as esquerdas. Leonardo Boff, talvez por ter levado um puxão de orelhas, a conhecida enquadrada, postou um meio desmentido a seu post anterior: “Correm pelas redes sociais críticas que teria feito a Lula. Elas são falsas. Pessoalmente não fiz nenhuma crítica. O que fiz foi publicar no meu blog um artigo de Carla Jiménez [...] No referido artigo Carla Jiménez, no final, faz críticas ao Lula o que considero, dentro da democracia, legítimo, embora não concorde”.

O que dizer do episódio? Alguém poderia vislumbrar na nova posição do antigo filho de são Francisco um começo de arrependimento. Tomara. Deus acolhe paternalmente o coração contrito, ainda quando enormes o crime e o pecado. “Quoniam iniquitatem meam ego cognosco: et peccatum meum contra me est semper. Tibi soli peccavi, et malum coram te feci”. [Reconheço a minha iniquidade e meu pecado está sempre diante de mim. Pequei contra ti só e fiz o mal diante dos teus olhos). A conduta exemplar de Davi ilumina os passos das gerações através dos séculos, levando-as a mudança de vida e a caminhar na virtude.

Quanto aos posts do ex-frei Leonardo Boff, neles não vi começo de nada. Inexiste semelhança entre o santo Rei penitente e o frade, manifestamente impenitente, pertinaz na adesão a ideologias e programas que jogaram (e ainda têm potencial para tanto) o Brasil nos precipícios que sempre atraíram, como a cobra hipnotiza o passarinho, os mitomaníacos do ateísmo coletivista.


Termino. Estão pipocando de todo lado posições como a acima relatada, mesmo entre a cumpanherada petista. Muitos, percebendo água no porão, estão pulando fora do barco. Acho mais provável que também o frei Leonardo Boff esteja procurando se eximir da parcela de culpa que tem na desgraça atual do povo brasileiro.

sábado, 22 de abril de 2017

Fornecendo a corda para o enforcamento


Péricles Capanema

Atribui-se a Lênin a frase: “0s capitalistas nos venderão a corda com a qual os enforcaremos”. Não consta de seus discursos, artigos e livros. Parece, tem origem em anotações pessoais de conteúdo semelhante, como a citada pelo pintor comunista Annekov: “Os capitalistas trabalharão duro em seu próprio suicídio”. Terá sido escrita na década de 1920, quando, de forma oportunista e inconsequente, numerosas empresas capitalistas, com lucros polpudos, venderam serviços e know-how para fazer da Rússia uma potência industrial e, logo depois, militar.

É hoje fato sem interesse saber com certeza o que teria afirmado Lênin. Pelo contrário, tem enorme interesse a realidade psicológica e moral para a qual sua frase aponta, o suicídio de civilizações, o suicídio de classes, o suicídio de famílias, cujas manifestações se sucedem tantas vezes em ambiente folgazão, irrefletido e pretensioso.

Em 7 de dezembro de 1968, Paulo VI, falando ao Seminário Lombardo, advertiu: “A Igreja se acha numa hora inquieta de autocrítica, dir-se-ia melhor, de autodemolição. É como um revolvimento agudo e complexo que ninguém teria esperado do Concílio, A Igreja quase como se golpeia a si mesma”. Autodemolição é outra palavra para suicídio. O Pontífice denuncia eclesiásticos cuja ação provoca a destruição da Igreja. O fenômeno, universal e apocalíptico, não se detém nos muros eclesiais, desborda e devasta a sociedade temporal, burguesia, professorado, empresários.

O suicídio (ou autodemolição) me veio, digamos, obsessivamente ao espírito ao ver grandes empreiteiros brasileiros relatando com espantosa normalidade o amazônico auxílio financeiro despejado no PT que tem, entre seus fins oficiais e proclamados, a destruição do capitalismo e a implantação de uma sociedade socialista. E como se prestavam a intervir (não vou fugir da palavra) criminosamente em assuntos de outros países, derramando dinheirama em campanhas de candidatos xodós de Fidel Castro. Por exemplo, torraram dinheiro nas campanhas de Chávez e Maduro. Também em El Salvador. E assim são coautores da miséria hoje generalizada na Venezuela. No fim, riqueza roubada de contribuintes brasileiros financiou o assalto ao poder de grupos ligados à tirania castrista e favorecedores de seus interesses na América Latina.

Forneceram oxigênio direto para ditadura cruel e implacável, asfixiada pela rejeição popular. Palavras de um deles, Emílio Odebrecht: “Chávez tinha uma relação muito intensa com Fidel, ao ponto de fazer preços camaradas na venda de barris de petróleo para Cuba. Ele me pediu que nós procurássemos viabilizar um programa de um porto lá em Cuba, porque era muito importante para os cubanos. Eu disse, olha chefe, nós trabalhamos nos Estados Unidos, um assunto desse de dinheiro, com tudo que Cuba tem de restrição, não é fácil viabilizar o esquema financeiro. Um pedido do senhor é algo que vou encontrar uma forma de atender. Agora, eu precisaria que o governo brasileiro estivesse engajado nesse projeto e também solicitasse [...] Eu não gostaria de tomar essa iniciativa sozinho. O senhor, que tem uma boa relação como presidente Lula, poderia ligar para ele e transmitir isso. De fato, Chávez fez a ligação. Logo depois desse encontro, o Lula me convocou dizendo que tinha recebido um telefonema do Chávez transmitindo o encontro que teve comigo e que estava na linha de apoiar o programa de Cuba do Porto de Mariel”.

O porto ficou em mais de 1 bilhão de dólares, construção da Odebrecht, pago em grandíssima medida com capitais do BNDES. E a maior parte da pecúnia do BNDES vinha do Tesouro. De você, contribuinte.

Perguntas cuja resposta é o óbvio ululante. Você acha que Cuba vai pagar o empréstimo? Você acha que PT, CNBB, MST, MTST, Pastoral da Terra, PC do B estão se importando com o fato de que foi roubado dinheiro dos pobres daqui para financiar o comunismo? Estão doídos porque os miseráveis brasileiros se viram privados de postos de saúde, escolas, transporte melhor, para ajudar ditaduras opressoras dos pobres de lá e ainda encher o bolso de políticos corruptos?

Tem mais e na mesma direção. O PT, quando esteve no poder, promoveu deslavadamente o estatismo e não apenas na sua vertente intervencionista. Convém recordar já que estamos tratando de empresários supostamente defensores da livre iniciativa. Pesquisa do Instituto Teotônio Vilela, divulgada pelo diário Valor, mostrou que, entre 2003, ano do primeiro governo Lula, e 2015, saída da presidente Dilma, o governo criou 41 estatais. Deram um prejuízo acumulado de 8 bilhões de reais. Pagaram salários de 5,5 bilhões de reais, boa parte dos quais para o bolso de apaniguados.

Apesar da realidade macabra, as confissões revelam fisionomias em nada contritas pelo que fizeram, pouco ou nada conscientes do dantesco mal que infligiram aos brasileiros. Com efeito, desfilaram nas redes sociais e nas TVs um montão de donos de empresas e altos executivos de fisionomia satisfeita, às vezes brincalhona.

Além de ter presente, como prego na alma, a frase atribuída a Lênin, acima referida, fato conexo me azucrinou: esse pessoal que aí está falando não é muito melhor nem muito pior que a média dos altos executivos e empresários brasileiros. A mais deles, antes, por anos a fio, vimos chusmas de colegas seus, urbanos e rurais, servindo em postos de confiança nos governos Lula e Dilma. Ou trabalhando em cúmplice colaboração de modo a favorecer a permanência infinda do PT no poder.

Adiante. Os depoentes que frequentaram o noticiário há pouco em geral tiveram educação familiar direita, cursaram boas universidades aqui ou lá fora, trabalharam em ambientes profissionais decentes. Têm história de vida semelhante ao grosso dos homens e mulheres que tocam a economia brasileira. Postas circunstâncias semelhantes, alguém duvida que repetiriam, e não só eles, as façanhas pavorosas?


Inafastável, jaz no fundo da questão um enorme problema moral e um oceânico problema de má formação. É o mais importante do caso. “Ou o Brasil acaba com a saúva ou a saúva acaba com o Brasil”, lembram? Não vejo ninguém com a atenção posta no formigueiro.