segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

O festival do ódio facilita a operação simpatia

O festival do ódio facilita a operação simpatia

Péricles Capanema

Para não virar barata tonta, ao analisar o presente sempre é bom voltar os olhos para a História. Manifestações carregadas de ódio e de vingança a respeito do falecimento de dona Marisa me lembraram a Revolução Francesa. Fui reler a justificação do Terror, exposta por Robespierre em discurso à Convenção, 5 de fevereiro de 1794. Ali o líder da Revolução Francesa expôs os princípios da política interior do governo: “A primeira máxima de vossa política é [...] deve-se conduzir os inimigos do povo pelo terror. [...] A mola do governo popular [...], é o terror, sem o qual a virtude é impotente. O terror é tão-só a justiça rápida. [...] Subjugai pelo terror os inimigos da liberdade. [...] O governo da República é o despotismo da liberdade [...] A indulgência para os monarquistas, querem alguns. [...] Na República só os republicanos são cidadãos. Os monarquistas são estrangeiros, melhor ainda, inimigos. [...] Faz parte da clemência punir os opressores da humanidade; é barbárie perdoá-los”.

O Terror da Revolução Francesa empalideceu-se diante do Terror comunista. Robespierre foi mirrado antecessor de Lenin, Stalin e Mao, moldados pela mesma ideologia e igual mentalidade. O tirano francês resumiu assim o objetivo a todos eles comum: “A alma da República [...] é a igualdade. [...] A primeira regra de vossa conduta política [...] a manutenção da igualdade”.

O PT grassou nesse terreno. E Fidel Castro, o mais sanguinário tirano da América Latina, deus do panteão petista, é herdeiro legítimo dos facínoras acima apontados. A ele Lula se referiu como “o maior de todos os latino-americanos”, “voz de luta e esperança”.

Por que recordo tudo isso? Por perceber a mesma mentalidade em centenas de manifestações nos últimos dias. Deixo abaixo algumas, significativas e reveladoras. Leandro Fortes, responsável pela propaganda do PT nas redes sociais na última campanha presidencial: “Todos sabemos os nomes, os cargos, as redações e as togas de cada um dos responsáveis pela morte de dona Marisa. Na hora certa, daremos o troco”. Renato Rovai, editor da revista Fórum: “A morte de dona Marisa não foi natural. Ela foi sendo assassinada aos poucos por um conluio, cujo pilar foi a mídia tradicional com destaque ultraespecial às Organizações Globo, à grande maioria do Judiciário envolvido nas investigações da Lava Jato e a uma classe política corrupta”. Paulo Nogueira, do DCM em artigo “Quem matou Marisa?”: “Muitas mãos estão manchadas de sangue. As da Globo, por exemplo.  Moro e a Lava Jato não seriam nada sem os holofotes ininterruptos da Globo. A mídia como um todo participou da caçada a Lula com seu jornalismo de guerra. [...] Os juízes do STF também têm sua culpa, dado a inércia com que lidaram com os abusos de Moro. De novo: Moro não está sozinho. [...] Outras mãos estão tingidas de sangue”.

Na entrada do Sírio Libanês, Michel Temer foi cercado e acusado de “assassino!, assassino!, assassino!, golpista!, golpista!, fascista!, fascista!”, além de insultado por palavrões impublicáveis. E na expulsão do repórter César Menezes e do cinegrafista da Rede Globo do velório a militância petista extravasou boçalmente o ódio no qual é nutrida: “Safada, golpista, assassina. Globo assassina. Fora, filho das trevas, tá preparando o berço de Satanás, anticristo. Maldita, ninguém quer você aqui. Seu maldito, vai embora, pilantra, safado. Globo News safada, fora daqui. Fora golpista, vocês não são bem-vindos, seus imundos. Vai embora, nojo. Fora Globo. Filho das trevas, anticristo, anticristo maldito. Nazista. A Globo é nazista. A Globo é nazista. Fascista”. E vai por aí afora. A Folhapolítica.org estampou tuíte pra lá de revelador: “@Viniciusclash. A melhor homenagem que alguém pode prestar a Marisa é matar Sergio Moro. 1:04 AM 02 fev 17”. Um lado da moeda, o ódio indisfarçado.

O outro. Existe o ódio envolto nas prudências da política. Aconteceu também na Revolução Francesa e na Revolução Comunista. Lula pôs a máscara “Lulinha, paz e amor”. Ele sabe, a jararaca quando mostrou as presas perdeu três eleições presidenciais. Só venceu ao fechar a boca e garantir a manutenção da política econômica do governo FHC.

Alguns sintomas. O morubixaba recebeu telefonema de condolências do ministro Gilmar Mendes e senhora. As esposas dos dois tinham sido amigas. Disse à senhora do ministro: “Guiomar, você perdeu uma grande amiga. Ela gostava muito de você, falava sempre de você. Eu quero que você saiba disso”. Dona Guiomar respondeu: “Vontade nunca faltou, presidente”. Lula acompanhou: “O mundo é redondo, querida. E a gente ainda vai se encontrar”. FHC foi vê-lo; o comandante petista comentou com políticos que depois estiveram com ele, o gesto do líder tucano “foi um exemplo pedagógico para os jovens”.

Na visita da comitiva multipartidária vinda de Brasília, esbanjou cordialidade e elogios. Para Renan Calheiros reservou “um dos maiores craques da política”. José Sarney foi agraciado com “meu companheiro” e “meu amigo”. Cochichou por alguns minutos com Romero Jucá. No meio dos líderes não deixou passar a ocasião, repetiu o que vem dizendo, o Supremo se acovardou diante da Lava Jato. Quer um Supremo mais flexível. E no discurso que fez no velório o que se viu foi um político preparando a candidatura para 2018. O caldo de cultura estava todo ali, esquerda católica, intelectuais radicalizados e líderes sindicais. O resignatário dom Angélico Sândalo Bernardino aproveitou para torpedear as duas propostas de reforma na bica: “A Marisa Letícia foi uma guerreira na luta a favor da classe trabalhadora. Atentem para as reformas trabalhistas que sejam contra os trabalhadores; a reforma da Previdência, contra pobres e assalariados. É preciso que estejamos atentos”. Em total desprezo pela realidade emendou, a crise atual “é falsamente atribuída à administração dos dois últimos governos".


Contradizem-se as duas faces, a da intimidação e a da simpatia? Calibradas, são complementares. O prof. Plinio Corrêa de Oliveira cunhou a expressão binômio medo-simpatia para a caracterizar. A intimidação bem dosada atua como uma sova em setores conservadores. A simpatia, enfrentando obstáculos menores, tem melhores condições de êxito. Está em curso uma operação simpatia.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

Salpicão terrorista

Salpicão terrorista

Péricles Capanema

Não estou tratando do prato de frango, cenoura, ervilha, milho verde, maçã, tanta coisa mais. Falo de um salpico (pingo de lama) grande, que pode emporcalhar o Brasil inteiro. Piora situação já terrível.

Vamos ao caso. As FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), organização guerrilheira de inspiração marxista, tem no tráfico das drogas sua principal fonte de financiamento. São narcoguerrilheiros. Com o governo colombiano dita organização conduz para ela vantajoso processo de pacificação por meio do qual passará a influir na vida política do país, a mais de conseguir perdão para crimes que vem cometendo desde 1964.

Contudo, circulam notícias, entre 5% e 10% de seus guerrilheiros (são estimativas, fala-se que o total das FARC chega perto dos 7 mil), portanto entre 350 e 700 discordariam do rumo das negociações. Discordância autêntica? Combinada? Não é aqui o momento de analisá-la. Afirma-se ainda que entre os desmobilizados existiriam centenas, talvez milhares, de ociosos. Desempregados, digamos.

Um pulo, passo agora para o Primeiro Comando da Capital (PCC). Teria 30 mil “batizados”, isto é, “soldados”, dos quais 9 mil no Estado de São Paulo. E seu agora adversário Comando Vermelho (CV) tem 20 mil “soldados”. Podem voltar a se aliar. Também aqui não entro na análise de dados, só mostro a enorme envergadura de tais números.

Feito o introito, chamo a atenção para notícia estampada no Wall Street Journal, 1º de fevereiro, por muitos considerado o mais sério jornal dos Estados Unidos. O PCC está contratando guerrilheiros das FARC para intensificar o tráfico da cocaína e facilitar o controle de mercados. O diário nova-iorquino transcreve palavras de Luís Carlos Villegas, ministro da Defesa da Colômbia: “O PCC está oferecendo empregos para as FARC”. Com isso, receberia, além da mão de obra, armas e técnicas de guerrilha de que anda necessitado. Lincoln Gakiya, promotor público paulista, estudioso do tema, adverte: “O PCC é obcecado com treinamento militar. Está procurando metralhadora ponto 50, capazes de derrubar helicópteros e de perfurar carros blindados”. Altos funcionários dos ministérios da Defesa e das Relações Exteriores do Brasil e da Colômbia se reunirão em Manaus a partir do dia 2 de fevereiro para compartilhar informações sobre como o PCC está trabalhando para incorporar guerrilheiros a seus quadros.

Na América Central, estudiosos apontam para a situação de “Estado falido” da Guatemala, Honduras e El Salvador, o Triângulo do Norte, próximo ao México, onde atuam poderosas organizações do narcotráfico. Aproveitando-se das estruturas estatais débeis, tais máfias se infiltraram em especial nos corpos de segurança e justiça. Hoje controlam grandes áreas, compraram funcionários, fundaram empresas de fachada, entre as quais algumas de segurança. Nas áreas controladas, executam funções típicas de governo (entre outras, manutenção da ordem e assistência social). Situação parecida temos em favelas cariocas e em vários outros pontos do Brasil.

Nesses três países, policiais corruptos, a mando do narcotráfico, executam pessoas. Honduras, Venezuela, Belize, El Salvador e Guatemala são os cinco países do mundo com maior taxa de homicídios. A média mundial é de 6,2 mortes por 100 mil habitantes. Honduras, 90,4; Venezuela, 53,7, Belize, 44,7, El Salvador, 41,2; Guatemala, 39,9. “O motivo principal de tantas mortes violentas é o crime organizado”, explica Angela Me, pesquisadora das Nações Unidas e coordenadora da pesquisa. Para comparação, Brasil, 29,1; Suíça, 1; Japão, 0,44. A presença insidiosa e corruptora do crime organizado no país inteiro, agora possivelmente facilitada pelos pontos de apoio e know-how das FARC, pode rapidamente empurrar o país para situação parecida com a do Triângulo do Norte.


Cerca de um mês atrás tratei em artigo divulgado por vários veículos do mesmo problema. Então escrevi: “Os choques entre as gangues do narcotráfico ▬ 27 facções conhecidas da Polícia ▬ ameaça não apenas o sistema prisional brasileiro, mas o próprio futuro do Brasil. Na América Central já há países virtualmente dominados pelos chefões do tráfico”. Era fácil prever o que já começa a acontecer: “As FARC, organização guerrilheira narcomarxista, controlava aproximadamente 40% da produção colombiana. Têm bases na Amazônia, enviam drogas até para o Paraguai, de onde entram no Brasil. Como ficará esse tráfico após a pacificação em curso? Como agirão os grupos dissidentes das FARC, que continuam trocando cocaína por dinheiro e armas”? Constatava: “As fronteiras brasileiras são pouco policiadas, o Brasil é o segundo mercado consumidor de cocaína no mundo e provavelmente o maior consumidor de drogas, cuja base é a cocaína, o crack entre elas.[...] Segundo documento do Departamento de Estado dos Estados Unidos o governo brasileiro ‘não tem a capacidade necessária para conter o fluxo de narcóticos através de suas fronteiras’”. E concluía: “Ainda não tratei do amadorismo. [...] Basta ler os jornais, ouvir notícias, assistir noticiários e nos agride por todos os lados, a irreflexão, a superficialidade, o desconhecimento dos temas em pauta. Autoridades, supostos especialistas, jornalistas, gente de toda laia estão opinando com pouca ou nenhuma ciência, com escassa ou nula experiência. Que falem os entendidos dos livros e da labuta, o assunto é sério demais para ser assim ventilado”. De lá para cá, a situação só se agravou. Daí o alerta renovado.